terça-feira, 10 de setembro de 2019

Mestre de Marionetes
Doía quando ele puxava minhas cordas
Mas eu nunca reclamei
Sem perceber o quanto aquilo tudo era errado
Todo o tempo eu o adorei
Nem lembro como começou
Como permiti? Como não percebi?
Mas foi tudo tão gradual
Tão silencioso e tão mortal
Minha pele endureceu
Meus olhos perderam a vida
Minha boca travou
Minha mente parou
Meu ser se perdeu
Minha alma adormeceu
Bem no âmago eu sabia que algo dentro de mim morreu
E certo dia, percebi que no espelho eu já não me via, nem me reconhecia
E foi assim que as cordas surgiram
E o mestre de marionetes me agarrou
Todos os meus movimentos controlados
Todo o tempo extasiado
Aprendendo a amar a dor
Achei que nasci para sofrer
Apagou-se em mim o ardor
A vontade de viver
Presumi que era então tudo natural
Que todas as pessoas eram feitas de madeira
E que nenhuma era verdadeira
E repassei minha presunção
Criei tantas marionetes para amenizar meus sofrimentos
Companheiros infernais de uma dor compartilhada
E show após show, como uma marionete (sobre)vivi
Shows de horror, ódio e dor
Gostaria de dizer que as cordas são as vilãs
Mas a marionete só obedece porque é muito covarde para desafiá-las
E quando a cortina baixava
Eu chorava, sem saber mais de onde vinha a dor
Mas eu estava errado
Não nasci para ser controlado
E algo dentro de mim despertou
Pouco a pouco eu retomei minha liberdade
A pele rejuvenesceu
Os olhos voltaram a brilhar
A boca voltou a falar
E minha mente a funcionar
E minha alma acordou
E o que estava perdido foi encontrado
E que morreu renasceu mais forte
Eu me olhei no espelho e as cordas se romperam
E com olhar de espanto eu percebi
Depois de tudo que eu sofri
Que ironia, o mestre de marionetes que me controlava
Não era nem de longe quem eu suspeitava
Era eu - Vitor Dias